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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto:  https://quatete.wordpress.com/

 

PAULO NUNES

( Pará )

Nasceu na Amazônia oriental brasileira; Belém do Pará, sua cidade natal.
É professor e pesquisador da Universidade da Amazônia; autor de inúmeros ensaios em revistas especializadas sobre literatura e linguagens; curador do acervo Dalcídio Jurandir do Fórum Landi / Moronguetá; poeta, Paulo Nunes tem diversos livros publicados, com destaque para FalsaFala, Twee editora.


 

Praia de Marahu, Mosqueiro. 
https://www.tripadvisor.com.br

***

 

Atravessa-me o dia

 

na Água Boa, Marahu, Mosqueiro.

 

Entretecidos na mandala

 

do céu e seus calores,

 

banho-me nas flâmulas noturnas que celebram o

 

junho dos folguedos.

 

Amamos fogueira e

 

São Pedro lá fora

 

labora a lua

 

(Com licença de São Jorge e seus ciúmes do queijo bola).

 

O sereno é o tempo:

 

seio das fuligens

 

que se evaporam

 

(átomo a átino)

 

Sim, é festa e seus silêncios

 

De quadrilhas, dicções e meninice.

 

Atravessa a bananeira (uma lâmina de faca)

 

num vento que me segreda uma voz pretérita:

 

“- oh meu pai mataram meu Rouxinol sobranceiro!”

 

O Rouxinol passareia seus

 

voos pros galhos da floresta mais próxima daquele quintal.

 

Nos aconchegávamos

 

Ao pé da fogueira, ela de novo,

 

Sim. Era junho. Tudo e nada

 

“Olha pro céu…”

 

Mira pra ver o tempo fugir.

 

(Mosqueiro, junho de 2018)

 

 

 

VII ANUÁRIO DA POESIA PARAENSEAirton Souza organizador.  Belém: Arca Editora, 2021.  221 p.  ISBN 978-65-990875-5-4    
Ex. Antonio Miranda



I. A passante do Grão-Pará

              a partir do romance BGP de Dalcidio

Alfredo logo se viu surpreendido
por uma senhora que passou
junto dele com roupa numerosa
deixando um rastro de misterioso perfume

(que mandava longe o cheiro das professoras)
......................................
Uma extravagante,
Era um traje que rangia
como um sapato novo
uns enfeites como espigas de milharal

mas quanta joia!
Que almofadas de rendas era o peito!
O chapéu, uma tampa de terrina
com ramalhetes caindo pelos ombros
da senhora, protegendo-os do sol.

No quarteirão sem calçada,
cheio de goiabas podres

e à vista dos cacos de vidro,

a madame avançava para o Largo de Nazaré

transportada por dois negros africanos

que eram aqueles seus sapatos fabulosos.

Rapaz, rapaz, que anda fazendo na rua?...

— O que te encheu os olhos foi uma ex-artista de teatro
[disse dona Inácia, a madrinha]

Mas francesa?
Por que francesa, hein, seu sem vergonha?


 

Postes de ferro

(algazarra dos meninos-voz-de-periquito),
e os postes de ferro
luziam votos do amanhecer
(embora nem soubéssemos
o que era aquilo a imitar os sinos).

Estávamos infantes,
D. Romualdo,
pois corrimãos e porta de madeira pesada
nos espreitavam já com saudades.

Daí que confessávamos pecados
com desdém no ano que ali nascia nem tão novo,
quando tomávamos bença
dos mais velhos.

No som da sala
a banda do Canecão
era feito um buquê de ilusões,

e tudo seria cerzido como os produtos
tecidos pela máquina Singer de minha mãe,
todos os filhos eram fados moldados no
macramê.

Quarenta e poucos anos insuspeitos,
leio Drummond e ausculto:

Meu Umarizal é um retrato
na parede
e já não dóis.

 

*

VEJA e LEIA outros poetas do PARÁ em nosso Portal:

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Página publicada em março de 2022


 

 

 
 
 
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